REVISTA ZONA DE IMPACTO. ISSN 1982-9108, VOL. 12, JUL/DEZ, ANO XI, 2009.
NO ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA
Resumo: A proposta deste artigo é tratar da importância da fonética para o professor de língua inglesa e, conseqüentemente, para seu aluno; no uso comparativo da língua materna e da língua alvo para que o aluno tenha maior facilidade para aprender a língua inglesa, transferindo de forma adequada parte de seus conhecimentos prévios sobre a língua materna para a língua estudada.
Palavras-chave: Fonetica e Aprendizagem.
Abstract: The proposal of this article is to treat of the importance of the phonetics for the teacher of English language and, consequently, for your student; in the comparative use of the maternal language and of the language objective for the student to have larger easiness to learn the English language, transferring in way appropriate part of your previous knowledge on the maternal language for the studied language.
Key-words: Phonetics and Learning.
INTRODUÇÃO
Através de observações em sala de aula e leitura teórica pode-se pensar na proposta de um artigo que tratasse da importância da fonética para o professor de língua inglesa e, conseqüentemente, para seu aluno; no uso comparativo da língua materna e da língua alvo para que o aluno tivesse maior facilidade para aprender a língua inglesa, transferindo de forma adequada parte de seus conhecimentos prévios sobre a língua materna para a língua estudada.
Dentre os vários mitos relacionados ao ensino-aprendizagem do inglês, pode-se dizer que há pelo menos dois relacionados a pronúncia: os que acham que para falar inglês é muito difícil, porque este é totalmente diferente do português e coloca empecilhos para retardar ou mesmo vetar o seu aprendizado; há aqueles que acham que basta “enrolar a língua” para falar inglês. Contudo, como poderá ser constatado neste artigo, a língua inglesa não é mais nem menos difícil que a língua portuguesa, é apenas outra língua, com suas características peculiares e também similaridades ao português.
A fonética é muito importante para o ensino-aprendizagem de línguas, pois pode ajudar professor e aluno a diferenciar os sons e perceber tanto a importância da pronúncia dos fonemas para o significados das palavras quanto como estes são produzidos.
Outro aspecto importante e facilitador para o ensino-aprendizagem de línguas é a comparação da língua materna com a língua-alvo, porque a primeira é a identidade do aluno, é dela que vem o seu conhecimento prévio. Por isso, o professor de língua inglesa deve saber como fazer uso em sala de aula do que o aluno já sabe, pois muitas vezes a língua materna ajuda o professor, outras vezes, contudo, atrapalha. O aluno de língua inglesa perceberá, através da comparação, que sua língua materna tem dificuldades e facilidades, assim como a língua alvo.
2. A produção dos sons
A linguagem falada é primária a escrita, apesar da última ter mais prestígio nas sociedades letradas. Para Cunha e Cintra (1985, 2), a mais freqüente forma de manifestação da linguagem - constituída de uma complexidade de processos, de mecanismos, de meios expressivos - é a linguagem falada.
O aparelho fonador é formado pelo sistema respiratório, o sistema fonatório e o sistema articulatório, que são fisiologicamente responsáveis pela produção dos sons da fala. Considerando-se as características fisiológicas do aparelho fonador, afirma-se que há um número limitado de sons possíveis de ocorrer nas língua naturais, pois, enquanto certas articulações são fisiologicamente impossíveis, outras são recorrentes. Por isso, o conjunto de sons possíveis de ocorrer nas línguas naturais é limitado. Na verdade, um conjunto de aproximadamente cento e vinte símbolos é suficiente para categorizar as consoantes e vogais que ocorrem nas línguas naturais.
Devido a isto, podemos deduzir que toda e qualquer pessoa sem deficiências fisiológicas seja capaz de pronunciar todo e qualquer som em qualquer língua. À vista disso, os seres humanos sem patologia apresentam um aparelho fonador semelhante (variando quanto às dimensões dos órgãos). No entanto, parece que na adolescência a capacidade das pessoas de articularem sons novos (de língua estrangeiras) passa a ser reduzida. Enquanto a maioria das crianças que venha a estar exposta a uma segunda língua falará esta língua sem qualquer sotaque, adultos que estejam expostos à mesma situação, quase que em sua totalidade apresentam sotaque com características de sua língua materna.
De acordo com a sociolingüística, "a língua é um instrumento de comunicação social, maleável e diversificado em todos os seus aspectos, meio de expressão de indivíduos que vivem em sociedades também diversificadas social, cultural e geograficamente." (CUNHA & CINTRA: 1985, 2)
A partir dessa informação pode-se afirmar que a língua materna é a identidade do(a) aprendiz de língua estrangeira, por isso quanto maior for o tempo de exposição somente a língua materna e ao sotaque dialetal mais estes se 'fossilizarão' na pessoa. Assim, a criança exposta a uma ou várias línguas estrangeiras terá mais facilidade para pronunciar os sons sem o sotaque da língua materna e/ou do dialeto, pois estes estarão menos 'fossilizados' nesta. Por outro lado, o adulto precisa praticar os sons e combinações inexistentes na língua materna e adaptar seu aparelho fonador para poder reproduzir ou se aproximar da pronúncia da língua-alvo.
Assim, o professor de língua estrangeira deve estar apto para ensinar ao aprendiz de língua estrangeira a maneira correta de pronunciar os sons da língua-alvo. Para tanto, o professor deve ter, pelo menos, noção de fonética (teórica ou prática) e que, principalmente, saiba como ensinar simplificadamente, isto é, de maneira clara e sem uso de termos técnicos os fonemas existentes ou não na língua materna do aluno . Pois quanto mais simplificada a explicação, mais simplificado será o aprendizado.
3. Transferência positiva e transferência negativa ou interferência
Quando ouvimos uma língua estrangeira, tendemos a pensar que os sons desta língua são os mesmos que os da nossa, ou são distorcidos de alguma forma. Ao tentarmos reproduzir os sons de uma língua estrangeira estamos na maioria das vezes transferindo para esta os nossos próprios fonemas.
Segundo Steinberg (1995), se os sons são comuns às duas línguas, estamos diante de uma transferência positiva. Se, no entanto, se trata de fonemas para nós desconhecidos, que tentamos reproduzir empregando um dos nossos que se lhe assemelha de algum modo, estamos diante de uma transferência negativa ou interferência.
A interferência pode ocorrer por vários motivos:
por causa da proximidade fonética ( o ponto de articulação de um fonema do português é muito próximo daquele não-existente no nosso sistema sonoro). Assim, por exemplo, o fonema /θ/ (fonema fricativo dental surdo) pode ser reproduzido como /s/ (fonema fricativo alveolar surdo). O resultado é a palavra to sink (= afundar), ao invés de to think (= pensar, achar);
apesar de alguns fonemas serem praticamente iguais nas duas línguas, a distribuição ou ocorrência do fonema na palavra ou sílaba pode ser diferente do português. É o caso de /v/ e /d/ que em inglês ocorrem em início, meio e fim de palavra, ao passo que em português jamais ocorre em posição final. Desse modo, a palavra cave /ke v/ (=caverna) tende a ser pronunciada /keivi/ e a palavra wind /wInd/ (=vento), tende a ser pronunciada como /windi/ (=ventilado), ambas com uma vogal de apoio. Sendo que, no primeiro exemplo não houve alteração do significado, apenas a influência da língua materna; já no segundo exemplo houve mudança semântica da palavra;
os fonemas comuns às duas línguas podem ainda ocorrer em seqüências diferentes, ou em seqüências idênticas, mas de agrupamentos consonantais diferentes. Tem-se nas duas línguas a seqüência st (em inglês star e em português estar). O falante nativo do português tende a colocar uma vogal de apoio em seqüências como esta, por isso este pronunciará /istar/, ao invés de /star/, neste caso não há mudança semântica, mas ao pronunciar a palavra State /steIt/ (= estado) o falante que usa a vogal de apoio antes da combinação st pronuncia /is'teIt/ (= bens ) muda o significado da palavra. Em inglês ela pertence à sílaba cujo centro é a. Em português /s/ e /t/ estão em sílabas diferentes. Já a seqüência dos fonemas /s/ e /m/ (comuns aos dois sistemas sonoros) é estranha ao português. A tendência é sonorizar o /s/, ou seja, produzir /zm/ em lugar de /sm/. Haverá ainda a adição da vogal de apoio em posição inicial, produzindo /izm/. Assim, smile /smaIl/ é produzido como /izmaIl/;
a escrita também interfere na produção dos fonemas. Como as letras do alfabeto são as mesmas na duas línguas, ou seja, fazem parte do sistema alfabético latino, então há problemas de interferência. O sistema tenta representar os fonemas. Os símbolos empregados são praticamente os mesmos nas duas língua, no entanto, nem sempre representam os mesmos fonemas. Pode-se dizer que os códigos são diferentes. A mesma letra não representa o mesmo fonema e o mesmo fonema não é representado pela mesma letra em cada uma das línguas. O problema é a correspondência entre som e letra. Essa correspondência é muito irregular em inglês. A mesma letra pode representar mais de um fonema, e o mesmo fonema pode ser representado por várias letras ou combinações de letras. Já o português, embora não tenha uma correspondência perfeita, é muito mais regular. Essa regularidade é levada como um hábito de leitura para a língua inglesa. Desse modo, temos em português por exemplo o fonema /p/ que é sempre representado pela letra p e vice-versa. Já em inglês o mesmo fonema pode vir escrito como p, pp, pe, ph, gh, como em pair (=par), upper (=mais alto), ape (= imitador; macaco) , Shepherd, hiccough (= soluçar), respectivamente. Quando o falante do português brasileiro escuta, por exemplo, a palavra pencil /'pεnsl/ consegue pronunciar, após praticar, o fonema lateral /l/ no final da palavra; ao vê-la escrita o falante do português brasileiro, que não é proveniente do sul do país, pronuncia o fonema /ω/, o qual lhe é peculiar ao final de palavra, como em sal, sol e azul.
Nas sociedades letradas o tipo de ensino enfatizado é o da inteligência lingüística, ou seja, a ênfase é na escrita. Dessa forma o aprendiz adulto torna-se dependente desta e tende a não memorizar a pronúncia das palavras, porque o aluno tende a gravar a escrita, muitas vezes, ao invés da pronúncia. Crystal (1995, 235), explica tal fenômeno afirmando que "o inglês falado é o meio mais natural e usado para comunicação, mas, ironicamente, é no qual a maioria das pessoas encontra menos familiaridade, talvez porque seja mais difícil 'ver' o que está acontecendo no discurso que na escrita."
Quando o falante, principalmente o aprendiz de língua estrangeira, não tem algo concreto a sua frente, como um livro, para prender sua atenção isto torna as habilidades de listening (áudio) e speaking (fala) mais difíceis para o aprendiz de língua estrangeira. O contato com a escrita e os vários anos escutando os sons da língua materna fazem com que o aprendiz de língua estrangeira (principalmente o adulto) pense na forma escrita ao ouvir e, dessa forma, transfira para a língua-alvo os fonemas da língua materna, ou seja, o ouvido não adaptado aos sons da língua estrangeira transfere os sons da língua materna para a fala da língua-alvo.
Além da interferência da escrita na fala, há também a intervenção da língua ou dialeto na produção dos sons, mesmo que o aprendiz escute o fonema como é pronunciado na língua estrangeira, poderá ter dificuldade para reproduzi-lo e, assim, ter que praticar o fonema até que seu aparelho fonador seja capaz de pronunciá-lo; o que pode não acontecer mesmo com a prática já que há falantes nativos do português que não conseguem pronunciar /sawsi∫a/, mas sim /∫aw∫i∫a/, ou seja, há pessoas que possuem dificuldade para pronunciar alguns fonemas e/ou combinações até mesmo na língua materna.
O conhecimento de todas essas diferenças também auxilia o aprendizado, pois, assim como o professor, o aluno poderá prever algumas pronúncias. O aprendiz perceberá que inglês e português são duas línguas distintas, às vezes semelhantes, mas exige do aluno mais cuidado para pronunciar fonemas que parecem com os nossos, contudo, não são.
4. A fonética da língua portuguesa contrastada a da língua inglesa em sala de aula
O(A) aprendiz de língua estrangeira precisa ser conscientizado de que, às vezes, uma pequena mudança na pronúncia pode causar mudança no significado. Para ilustrar as conseqüências de se trocar um fonema pelo outro o professor de língua estrangeira pode usar exemplos da língua materna para que o aprendiz realmente entenda os problemas que isso pode acarretar.
Vejamos, primeiramente, alguns exemplos da língua portuguesa. As palavras a seguir são muito parecidas, mas tem seu significado modificado por causa do uso errôneo da pronúncia de fonemas muito parecidos:
a) cama /'kãma/ por cana /'kãna/
b) faca /'faka/ por vaca /'vaka/
Contudo, algumas vezes, a mudança na pronúncia não produz mudança no significado, apenas é marca dialetal. É o caso de:
a) banana /ba'nana/ ou /bã'nana/
b) carne /'karni/ (r “caipira”) ou /'kahni/ (r como na palavra inglesa have) ou /'kaxni/ (r do carioca)
O mesmo acontece na língua inglesa, às vezes pequenas mudanças na pronúncia ocasionam mudança no significado da palavra. Por isso, o professor de língua estrangeira deve estar atento a isso e corrigir o aluno e mostrar-lhe que se houver mudança, por mais sutil que pareça ao aprendiz de língua estrangeira, o significado da palavra mudará e, com isso ao invés de, por exemplo, na língua inglesa pronunciar /θri:/ (três) fala /tri:/ (árvore) ou /fri:/ (livre). Este tipo de erro ocorre porque o primeiro fonema, não existente no português, pode-se dizer é um som intermediário entre o t e o f. Assim, o aluno com o ouvido não treinado escuta e reproduz o som que lhe é familiar.
Muitos fonemas existem tanto no português do Brasil quanto na língua inglesa. No entanto, alguns não são comuns a falantes de algumas regiões do Brasil. É o caso do r retroflexo: pronúncia típica do dialeto 'caipira'. O aprendiz de língua estrangeira conhece o fonema e sabe como pronunciá-lo, contudo, como não está habituado a pronunciá-lo, tende a pronunciar o r que lhe é característico.
Abaixo estão listados alguns exemplos de palavras da língua inglesa que tem seu significado alterado por causa do não uso r retroflexo, como:
a) head /hεd/ (=cabeça) por red /rεd/ (=vermelho)
b) home /hom/ (=lar, casa) por Rome /rom/ (=Roma)
Outro exemplo é a troca do fonema lateral /l/ no final de palavra pelo fonema /u/ ou /w/, feito pelo(a) aprendiz brasileiro não proveniente do sul do país:
feel /fi:l/ (=sentir) por few /fiω/ (=pouco(a))
Outro aspecto da língua inglesa é sua variedade de vogais. Muitos sons de vogais inglesas são inexistentes na língua portuguesa, que por sua vez são agentes diferenciadores de significado e, por isso, o(a) aprendiz de língua inglesa deve aprender a distingui-los para poder praticá-los. Vejamos alguns exemplos:
sleep /sli:p/ (=dormir) por slip /slIp/ (= escorregar)
bed /bεd/ (=cama) por bad /bæd/ (=mal, ruim)
men /mεn/ (=homens) por man /mæn/ (=homem)
Os sons das vogais acima, como todos os sons inexistentes na língua do(a) aprendiz, são difíceis de pronunciar, porém não são impossíveis. O professor pode explicar que o fonema /I/ do primeiro exemplo logo acima à direita é um som intermediário entre o fonema /i/ e /e/ da língua portuguesa, ou seja, ele é um e curto; já para pronunciar o fonema /æ/ do segundo e terceiro exemplos à direita, o(a) aprendiz deve abrir a boca como se fosse pronunciar o fonema /a/ e pronuncia o fonema /ε/. O professor deve mostrar as diferenças e praticar com os alunos a fim de que eles possam perceber a diferença e se adaptar aos novos fonemas.
Com tantas diferenças fonéticas o aprendiz de língua inglesa dirá que a língua inglesa é muito difícil e poderá ficar sem estímulo para atentar a tantos detalhes. Então, o professor deve usar exemplos da língua materna para que o aluno realmente entenda que a língua inglesa não é a única com dificuldades e facilidades para se aprender. O professor deve mostrar que algumas combinações da língua portuguesa são difíceis de serem realizadas e que conseguimos pronunciá-las porque, primeiramente, ouvimos e tivemos que praticar muito e que muitos nativos não conseguem realizar até depois de adultos. É o caso da combinação pr em palavras como problema.
Assim, o professor de língua inglesa pode mostrar para o aprendiz que não somente ele/ela tem dificuldades com a língua inglesa, mas o falante nativo desta sente dificuldade para pronunciar palavras com vogais nasais, com mamão, mãe, portão, etc., as quais são de fácil pronúncia para nós. Contudo, para chegar ao estágio de fácil tivemos que ouvir, perceber como pronunciar e praticar até adaptar nosso aparelho fonador para produzir tal fonema.
O aprendiz perceberá que errar e ter que adaptar o aparelho fonador não é exclusividade do nativo da língua portuguesa e que o aprendizado de uma língua estrangeira envolve divergências, dificuldades e semelhanças nas quatro habilidades (escrita, audição, fala, leitura), gramática, sintaxe, semântica, etc.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As pessoas que estudam uma língua estrangeira têm vários motivos para isto: gostam da sonoridade da língua e por isso querem entender as músicas, os filmes, entrevistas na língua, etc.; querem ler na língua-alvo; precisam da língua para auxiliá-las no trabalho e/ou estudo; é matéria obrigatória na escola; precisam para viajar, etc. Não importa o(s) motivo(s), a pessoa quando estuda uma língua estrangeira querem aprender ou, às vezes, ter um motivo para sair de casa. Tais pessoas não pensam nos detalhes de se aprender uma língua estrangeira: elas terão que adaptar o aparelho fonador para pronunciar os sons não-existentes na língua materna e/ou dialeto, ou usar seus conhecimentos prévios para entender o que está explícito e implícito no aprendizado de uma língua.
Embora o aprendiz perceba algumas diferenças e semelhanças existentes entre sua língua materna e a língua-alvo, muitas vezes, é necessário que o professor faça com que o aprendiz de língua estrangeira perceba as diferenças fonéticas - muitas vezes determinadoras de significado - sintáticas, gramaticais e, desse modo, o(a) aprendiz passará a prestar mais atenção na língua materna, pois ele/ela usará o conhecido para compará-la ao novo.
A importância da língua materna é tão grande no aprendizado da língua estrangeira porque a primeira é a referência do aluno e é dela que vem o conhecimento prévio que auxilia o aprendiz a entender e absorver melhor a língua-alvo. Além disso, o estudo de uma língua estrangeira proporciona ao aluno interação em sala de aula com os colegas; o aprendiz passa a descobrir e valorizar o outro nas suas relações como ser social; o aprendiz poderá compreender a diferença de costumes entre os povos, adquirindo consciência crítica sobre a sua própria cultura e valorizando-a.
O ensino da língua estrangeira beneficia o estudo da língua materna, pois leva à conscientização de que há semelhanças e contrastes entre ambas. Por isso, devemos considerar que a aprendizagem de uma língua estrangeira só será eficiente se levarmos em conta a identidade cultural do aluno, isto é, sua língua materna como elemento primordial. O professor de língua estrangeira deve mostrar e/ou fazer o aluno perceber as diferenças e semelhanças entre a língua materna e a língua estrangeira através do contraste entre o conhecido e o novo.
Considera-se mais fácil de entender aquilo que nos é familiar. A partir dessa afirmação, o professor de língua estrangeira pode usar o conhecimento prévio do aprendiz para prover maior entendimento da matéria. O professor poderá usar exemplos da língua portuguesa para mostrar ao aluno que os fonemas /p/ e /b/ são parecidos, no entanto, não são iguais. Se uma pessoa pronunciar /'batw/ ao invés de /'patw/ não estará pronunciando a palavra desejada.
Várias vezes o professor vai ter que chamar a atenção do aluno para dizer que determinado fonema não existe na língua materna, mas que este é um fonema determinador de significado, assim como pato e bato. Com isso, o aprendiz compreenderá que seu aparelho fonador terá que ser adaptado para produzir os sons ou combinações inexistentes em seu idioma ou dialeto.
Não somente falantes do português têm que adaptar seu aparelho fonador para produzir sons existentes somente em outras línguas. A língua portuguesa também tem sons que são inexistentes em outras línguas e que, para conseguir pronunciá-los, o(a) aprendiz de português tem que adaptar seu aparelho fonador. Enfim, aprender uma língua estrangeira envolve adaptação do aparelho fonador para produção de sons específicos.
O aluno de língua estrangeira precisa entender que não há língua totalmente fácil, nem totalmente difícil. Todas têm suas facilidades e dificuldades. Se, por exemplo, no português a correspondência entre som e letra é menos irregular que a do inglês a nossa gramática é mais complexa. O processo de aprendizagem envolve erros e acertos.
O professor de língua estrangeira não pode corrigir o aprendiz a todo momento, pois isto poderá desistimulá-lo. O professor deve mostrar ao aluno a diferença entre a pronúncia com sotaque brasileiro e a pronúncia do nativo para que seja amenizada a dificuldade de ouvir e compreender um nativo falando. Isto quer dizer que o professor não deve reprovar o sotaque brasileiro do aluno, porque pode ser um sinal de que o aluno deseja manter sua identidade marcada na pronúncia da língua estrangeira. Contudo, deve concentrar-se em corrigi-lo e mostrar o porquê da correção quando houver interferência no significado e comunicação.
O conhecimento prévio da língua materna do(a) aprendiz de língua estrangeira nem sempre é agente facilitador do aprendizado de uma língua estrangeira, muitas vezes há interferência, mesmo assim, o(a) professor(a) de língua estrangeira deve usar exemplos da língua materna em sala de aula, para mostrar, através da análise contrastiva, o que pode ocorrer se houver uso inadequado ou troca de fonema. O (A) aprendiz precisa de algo interessante e eficaz: o contraste entre o novo e o desconhecido, pois ele/ela poderá entender melhor tanto as similaridades quanto as diferenças.
BIBLIOGRAFIA
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